Ontem eu sonhei comigo mesmo. Mas deixa eu explicar melhor:
eu sonhei que observava minha vida de longe. Como se pudesse voltar e observar
coisas que na época pareciam banais e hoje me trazem uma saudade muito boa -
nenhuma nostalgia, mas uma simples confirmação de que tudo o que passei faz
sentido agora. Sonhei que estava ao lado da minha versão criança, do meu
mini-eu, sentado no banco de trás do carro do meu pai. Era um daqueles típicos
domingos em que passávamos o dia na casa da minha tia. Tios, primos, sobrinhos,
risadas e abraços. Um daqueles domingos que, quando anoitecia, ficava triste
por saber que tínhamos de partir. E quando partíamos, olhava pelo o vidro
traseiro do carro todos acenando ao longe. No sonho, foi como se pudesse acenar
mais uma vez pra tudo isso. Peguei as minhas mãos e encostei nas mãos
pequininas do mini-eu. A gente ficou feliz por reconhecer que eram as mesmas
mãos, o mesmo formato das unhas, a mesma cicatriz no dedo indicador direito. O
mini-eu sorria muito, mas muito mesmo. Como foi bom rever este
sorriso-de-criança. Como é bom saber que ele continua o mesmo.