sábado, 6 de junho de 2009

Caro(a),

Me (re)estabeleço, me (re)faço, me (re)descubro. Que as interrogações se acabem e que os pontos-e-vírgulas se multipliquem. Só não quero o ponto final. As reticências também não me agradam, são inconclusivas. Na falta de conclusões, prefiro o silêncio. Dizer por dizer já não me basta. É como o vômito cheirando a mofo em tempo de melancolia. Os tique-taques do tempo dão a sensação de uma rotina que não quero mais ter, ou que na verdade, nunca tive. Nunca tive uma vida tão meticulosamente calculada que pudesse contabilizar o que de fato vivi. Pontos-e-vírgulas de tristeza, alegrias, algumas frustrações, conquistas e um punhado de lágrimas. Estas sim, metodicamente vertidas, como num conta-gotas. Aí está: eis a medida do que vivo; lágrimas contadas, uma-a-uma.

A alegria não vem mais como resultado, mas como pré-requisito. Pois chega: de sorrisos já vivemos em demasia, não achas? Pouquíssimos são aqueles que verdadeiramente riem em estado contemplativo, puro e simples. Pouquíssimos são aqueles que sorriem não só o amarelo, mas o verde, o azul-marinho, rosa, preto e branco. Não sorriem pro mundo, nem pra si mesmo.

Brindemos aos céticos! Aos céticos de alegria lilás. Que não se apóiam em métodos e/ou fórmulas usadas como muletas, como apêndices, ingeridas como elixires para se sentirem menos óbvios, menos cegos, menos desprestigiados. Pois sabem que o efeito é passageiro. Sabem que não há demônios a serem combatidos. Não há sequer um problema até que de fato o considerarmos como tal. Ah, os céticos. Estes sim - não riem para mostrar que são felizes, felicidade hipócrita que se instala até o início da alma.

Brindemos à sinceridade! Pois só os sinceros vivem o que de fato são. Ou o que acham que são. Ou aqueles que, apenas, são. Verbo intransitivo. Aí reside a real sinceridade: a para consigo mesmo. Criar a nossa verdade é, sobretudo, vivê-la. Uma verdade cética - não premeditada, roteirizada, dirigida a quem possa ouví-la: uma verdade sentida.

Mas te (re)estabeleço, te (re)faço, te (re)descubro. Que a sensação de encantamento não se acabe, que o ceticismo não nos iluda, que a verdade nos dignifique. Que as lágrimas, tantas e tantas vezes derrubadas, continuem. Sinônimo de contemplação plena, lágrima essa, sem cor.

Nenhum comentário: