segunda-feira, 31 de outubro de 2011

peça

voltei. tô aqui, viu? é bom olhar pra frente e ver tanta coisa boa pelo caminho. é bom se sentir novamente inteiro, e não aos pedaços. eu colei cada partezinha deles, e tô aqui. agora eu conheço cada peça deste quebra-cabeças. isso me lembra a minha infância. tinha (e ainda tenho) uma caixa de lego com várias pecinhas, acho que milhares. e eu lembrava de cada peça. eu ficava horas procurando uma única parte. todo mundo me perguntava 'você tem certeza mesmo que esta peça existe'? em geral eram aquelas pecinhas mais pequenas, de um ponto de encaixe. eu ficava horas e horas procurando. e eu achava. era a pecinha que faltava pra dar a sustentação correta da laje que tinha construido. era a pecinha que faltava pra criar um encaixe mais preciso. mal eu sabia que anos mais tarde tudo isso se mostraria uma grande metáfora da minha vida e de tudo o que tenho passado. foi e tem sido difícil, mas eu não desisti de procurar aquela pecinha que faltava pra me deixar seguro, sólido, confiante, fortalecido.
.
.
.
agora talvez falte apenas uma.

domingo, 23 de outubro de 2011

exato momento.

tem aquela parte da vida em que você não pensou muito pra dizer tudo que sentia - talvez nem as palavras fossem necessárias. aquela pessoa que você descomplicadamente se adequa, se encaixa, se reinventa. e acha tudo despropositadamente caminho. aquela pessoa que você sabe que por mais defeitos que ela tenha, são as virtudes que a faz ser tão encantadora aos teus olhos. aquela pessoa que te perdoa de tudo, que perdoa a si mesmo. aquela pessoa que está exatamente no mesmo momento de vida que você. ela não quer mais, nem menos. ela quer é viver ao teu lado. ela quer é gozar no teu compasso. ela quer você. você a quer assim, deste jeitinho, não como antes, nem uma projeção do depois. você quer ela agora. sem contar o tempo.

quando é o exato momento?
qual é a exata medida?

domingo, 16 de outubro de 2011

ciclo

faz um bom tempo que não escrevo aqui no blog. muitas vezes iniciei uma nova postagem e recuei, em busca de mais fôlego, silêncio e reflexão. a vontade de compartilhar a minha alegria se fez presente novamente. e que eu tenha tranquilidade e paciência para entender estes ciclos. entender os meus ciclos, sempre intensos, sempre cheios de vida. sim, a vida que já me deu tantas coisas boas e que me fez assim, um questionador incontestável, uma catarse em busca contínua. e tenho cada vez mais a dimensão de que qualquer segundo, qualquer sopro de vida que temos vale a pena, e como ele é essencial pra todo um contexto. não me arrependo mais das coisas, não me arrependo mais de mudar de ideia, de corte de cabelo, de vontades e manias. e que esse questionamento muitas vezes intangível busque sempre o novo, o supreendente, o verdadeiro. que ele seja leve, tranquilo, vivaz. não tenho mais medo de cair e levantar quantas vezes isso for preciso. sei que todas as pedras jogadas ficaram pelo caminho. eu continuei. estou aqui, com a maior vontade do mundo, com essa vontade gigante de compartilhar tudo que me convêm. posso enfrentar o que for, eu sei quem está do meu lado, longe ou perto, pouco ou muito. se há vontade, há entrega, há compartilhamento. por menor que seja. e talvez sejam nesses pequenos espaços de tempo despropositados, em que não pedimos nem exigimos nada, absolutamente nada em troca, que renascemos. e o ciclo se refaz.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Gente diferenciada quer ser diferente?


Caro morador de Higienópolis e quaisquer-outro-cantinho-burguês-quatrocentão-elitista-da-cidade,

Eu me simpatizo com você, sabia? Sou diferenciado sim, ma non troppo. Queria ser igualzinho a você, que compra batata pelo dobro do preço no Pão-de-Açúcar da Angélica. Aliás eu sou muito mais da turma do titio Abílio. Construir uma estação de metrô neste lugar vai me obrigar novamente a pagar centavos de real num pão francês do boteco da outra esquina. E eu confesso que adoro comprar os produtos do Olivier Anquier. Mesmo que ele me custe mais do que dois bilhetes de metrô.

Vou te contar que acho saudável caminhar da estação Santa Cecília até a Rua Maranhão, onde trabalho. Ser pobre engorda, sabia? É churrasquinho no fim-de-semana, a maionese da tia, o pudim-de-pão da vó, isso sem contar a tigelinha de milho verde que eu não consigo deixar de comprar quando estou na fila do Bilhete Único. Queria dar umas voltinhas na Praça Buenos Aires aos sábados, assim como vocês. Quem sabe tomar um cafezinho na padaria do Benjamin Abraão. É aquele senhorzinho que ia na Ana Maria Braga, né não? Eu gostava dele. Mesmo que fosse só pela tevê.

A minha diferença dos meus amigos diferenciados é que eu acho o mundo de vocês o má-xi-mo. Mesmo. Admiro a capacidade que vocês têm de ficar tanto tempo dentro de um carro sozinhos. Acho que o dia que eu pegar um metrô e estiver sozinho no vagão, terei uma única certeza: estou na estação errada.

Eu não tenho brasão, nem dinheiro. Mas tenho admiração por você. Deixa eles protestarem a vontade, amigo. Por detrás do insul-film você nem consegue enxergar.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

aqueles minutos que pareceram horas.

tinha me dado uma vontade boa de dizer 'fica aqui mais alguns minutos, horas'. acendeu um cigarro bem vagabundo, daqueles que eu não suportaria nunca. mas aí tinha você, o seu cheiro, tinha seu pescoço de-li-ci-o-sa-men-te cheiroso. e eu fiquei, sem você dizer uma só palavra. queria ter calado mais a minha boca e ter te beijado. mas eu tava gritando por dentro, não tinha como ficar quieto. eu tava sucumbindo às minhas vontades, todas elas. você percebeu? adorei quando você me olhou em silêncio lá no fundo das minhas verdades. e eu sei que na tua frente não consegui esconder nada. nadinha. até o dedinho do meu pé esquerdo tava ali gritando, querendo gritar sei-lá-o-quê. mas você pegou teu cigarrinho vagabundo e se foi. eu continuo aqui, recriando meus versos, tentando medir palavras pra não parecer cafona. e eu tô cafoníssimo, sabia?

domingo, 1 de maio de 2011

Aquele que aprendeu a ouvir um não.

'Não', você disse. 
E eu não tive uma fração de segundos para entender. Talvez porque lidar com finitudes sempre foi uma constante pra mim. A finitude ironicamente pra mim nunca teve fim. Nunca me acostumei com teus elogios, sempre tão sinceros e triviais. Me apeguei às frases decoradas, aos clichês mais banais pra tentar te perceber. E ao tentar te achar, não enxerguei o que estava na minha frente e deixei escorrer pelos meus dedos. Não escutei o teu grito, o teu gozo. Preferi projetar o que eu queria, o que eu sentia, o que eu esperava. Esperava lá na beira do cais, sem resposta, sem acenos, sem terra firme. E assim nunca percebi que as coisas não são tão uníssonas assim. A forma de expressar o meu sentimento é alheia a mim, e só a mim. Cada um tem o seu jeito de externá-la. Mas eu queria que você cantasse no meu ritmo, que fodesse no meu compasso, que me amasse na minha melodia. Cantei sozinho até a minha voz sumir junto com você. Ao olhar mar adentro, esqueci do que me saltava aos olhos, à deriva, à minha espera. Mas esta espera um dia torna-se caminho, segue teu rumo, encontra outro cais. E agora, ao te ver partir para o longe, finalmente entendi. Não há mais espera, não há mais nada que não possa estar ao alcance dos meus olhos e do meu coração. A finitude desta vez não me incomoda. Pois não há mais cais nem navio, só o mar. Só um horizonte sem fim, deliciosamente sem fim. Que bom.